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Paulo de Tarso Lyra -Correio Braziliense - 28/07/2012
Candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad faz campanha em ônibus: desconhecido por 45% da população, o ex-ministro ainda disputará holofotes com o mensalão
O julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), marcado para começar na próxima quinta-feira, 2 de agosto, trará mais uma dor de cabeça para a campanha do candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad.
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Como a análise do caso deve mobilizar a atenção dos brasileiros, principalmente nesta primeira fase, quando o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentará a acusação e os advogados colocarão seus argumentos de defesa, o interesse do eleitorado pela disputa municipal será mínimo durante esse período. Para um candidato pouco conhecido como é Haddad, essa divisão poderá ser mortal. “Para nós, seria ideal que o eleitorado já estivesse concentrado na campanha”, reconheceu ao Correio o presidente do diretório municipal do PT, Antonio Donato. Passados quase um mês do início das campanhas de rua e mais de 40 dias da oficialização da candidatura, Haddad não consegue superar o intervalo entre 6% e 8% das intenções de voto. O PT se esforça para tornar seu candidato conhecido, mas, até o momento, nada do que foi tentado surtiu efeito. Nem mesmo as aparições de Lula — inclusive no Programa do Ratinho, ao lado de seu pupilo — foram suficientes para alavancar o nome de Haddad.
Donato afirmou que, no caso dos principais concorrentes do petista à prefeitura, essa divisão do noticiário entre mensalão e eleições tem um potencial de estrago menor. O candidato do PSDB José Serra, por exemplo, é conhecido por 100% do eleitorado. Grande surpresa nas pesquisas até o momento, o candidato do PRB Celso Russomano é conhecido por 94% do eleitorado. Apesar de ex-ministro da Educação, Haddad ainda é pouco conhecido entre os paulistanos — apenas 55% sabem quem ele é. “Quanto mais tempo a campanha demorar para engrenar, mais difícil fica”, reconheceu Donato.
Petistas procurados pelo Correio não acreditam, no entanto, que as acusações de corrupção contra o PT que virão à tona mais uma vez durante o julgamento do mensalão poderão atrapalhar o desempenho de Haddad. Lembram que o pior momento para o partido foi durante a campanha de 2006, um ano depois que o escândalo estourou. Lula foi reeleito, o PT elegeu a maior bancada de deputados na Câmara e o candidato do partido ao governo de São Paulo não chegou ao segundo turno por causa de outro escândalo: os aloprados.
Os coordenadores da campanha de Haddad correm contra o tempo para tentar atingir a meta estabelecida por eles: chegar ao início do horário eleitoral gratuito, em 21 de agosto, com aproximadamente 10% das intenções de voto. Alguns militantes que não participam diretamente da campanha acham que, se o PT tivesse apresentado outro nome, esse percentual de 10% já teria sido alcançado. “Eles estão pagando por erros cometidos lá atrás e estão tentando, com essa desculpa do julgamento do mensalão, colocar um ‘bode na sala’”, provoca um integrante da direção nacional do PT.
Horário gratuito
Dentre esses erros, estariam, basicamente, três: o processo atropelado de escolha de Haddad, que provocou a desistência de Marta Suplicy; a demora para fechar um acordo com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, até que esse decidisse pela aliança com o tucano José Serra; e a famosa foto de Haddad e Lula apertando a mão de Paulo Maluf no dia do acerto da coligação com o PP. “Coligação tudo bem, mas posar para foto foi demais para a militância”, reconheceu um cacique partidário.
Dentre esses erros, estariam, basicamente, três: o processo atropelado de escolha de Haddad, que provocou a desistência de Marta Suplicy; a demora para fechar um acordo com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, até que esse decidisse pela aliança com o tucano José Serra; e a famosa foto de Haddad e Lula apertando a mão de Paulo Maluf no dia do acerto da coligação com o PP. “Coligação tudo bem, mas posar para foto foi demais para a militância”, reconheceu um cacique partidário.
Quando o horário eleitoral começar, Haddad terá à sua disposição aproximadamente sete minutos e meio de exposição pela manhã e à noite, além de 15 inserções de 30 segundos ao longo de todo o dia. Como existe uma tendência que o eleitorado se canse da propaganda política, são nessas inserções, espalhadas ao longo da programação, que o PT aposta as fichas para tornar Haddad conhecido. “As propagandas vão entrar no meio do futebol e da novela, não dará tempo para o telespectador mudar de canal”, brincou Donato.
Para o vice-presidente da CPI do Cachoeira, deputado Paulo Teixeira, Haddad deverá chegar à reta final da campanha, em meados de setembro, com 35% das intenções de voto. “Além do horário eleitoral, o nosso candidato contará com o apoio do ex-presidente Lula e da presidente Dilma”, acrescentou Teixeira.
"Quanto mais tempo a campanha demorar para engrenar, mais difícil fica"
Antonio Donato, presidente do diretório municipal de São Paulo do PT
Antonio Donato, presidente do diretório municipal de São Paulo do PT
Memória
Posições erráticas
Desde que o escândalo do mensalão foi deflagrado, em junho de 2005, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou de opinião algumas vezes sobre o caso. Logo no início da crise, durante discurso em uma reunião ministerial realizada na Granja do Torto, afirmou que “se sentia traído” e pediu desculpas ao povo brasileiro por atos cometidos por alguns integrantes do PT. Depois, em entrevista a um canal de televisão francês, declarou que “o PT fizera a mesma coisa que outros partidos fazem no Brasil (caixa dois de campanha)”.
Reeleito presidente em 2006, Lula passou a dizer que o mensalão não existiu e que tudo se resumia a “um golpe que as elites tentaram dar no país”. Repetiu esse mantra ao longo de todo o segundo mandato e prometeu que, após deixar o Palácio do Planalto, viajaria o país para denunciar “a farsa do mensalão”.
O movimento mais emblemático de Lula após deixar a presidência foi a reunião com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes no escritório de advocacia do ex-ministro Nelson Jobim. Durante o encontro, Lula teria pedido a Mendes que tentasse com os seus pares o adiamento do julgamento para depois do período eleitoral. Em troca, garantiria proteção a Gilmar na CPI do Cachoeira. Lula confirmou o encontro, mas desmentiu o teor da conversa.
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