As Forças Armadas também são chamadas a colaborar em missões de manutenção de paz no exterior. "As Nações Unidas querem tropas e comando do Brasil em outros continentes, graças ao êxito da missão no Haiti", reforçou Peri. Em meio à escalada de violência das grandes cidades, novamente surgem as três forças como solução pacificadora, mesmo que temporária, como visto recentemente no Rio. E uma vez mais, cumprem a missão com bravura, apesar das condições adversas. Mas fica a lição: se o Brasil quer mesmo a paz, tem de dotar as Forças Armadas de recursos para a guerra. MERECEM MAIS ATENÇÃO do governo e da sociedade as palavras do comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, durante reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, na semana passada.
O militar traçou um quadro angustiante da situação por que passam as Forças Armadas brasileiras, que operam com maquinário ultrapassado, efetivo diminuto e orçamento limitado. De acordo com o general, 78% dos blindados hoje em operação têm mais de 34 anos (são, portanto, anteriores à era da informática) e 58% das viaturas, mais de duas décadas.
Peri ressaltou que o Brasil é o país sul-americano que menos gasta em defesa, além de manter um efetivo que supera apenas o do Exército argentino. O projeto de lei orçamentária prevê, para 2008, recursos na ordem de R$ 2 bilhões (pouco mais de US$ 1,1 bilhão) para o Exército. Embora seja 50% maior que o planejado para 2007, ainda está longe de suprir as necessidades da caserna. Para se ter uma idéia, o Chile investe US$ 2,7 bilhões ao ano; a Venezuela, US$ 6 bilhões; e a Colômbia, US$ 3,7 bilhões.
Para o comandante, mais importante que ampliar o número de quartéis e brigadas é dar condições para que a atual estrutura possa operar. Nesse intuito, Peri defende não apenas programas de reaparelhamento e modernização da força como a reestruturação do Exército para adequar-se à conjuntura mundial, sobretudo no subcontinente em que o Brasil se insere. Com 15,7 mil quilômetros de fronteiras, é natural que as atenções dos militares se voltem aos vizinhos. Mas o cobertor curto preocupa. "É preciso entender que temos não só de manter como repor material, para fazer frente às novas ameaças, principalmente nas fronteiras. E isso não é paranóia", destacou Peri.
Em consonância com os temores daqueles que vêem a Amazônia sendo vilipendiada, aos poucos, pela ação do tráfico de drogas e da biopirataria, o general ressaltou a importância de se melhorar as condições das brigadas que atuam naquela região tida como principal prioridade do Exército. Dos 900 quartéis que defendem as fronteiras nacionais, 71 estão situados na selva, guardados por 25 mil homens. É pouco para garantir a vigilância de uma região repleta de superlativos. A Amazônia representa 56% do território nacional, faz fronteira com sete países e possui um dos maiores bancos genéticos e a maior província mineralógica do mundo. Fatores que despertam a cobiça estrangeira desde tempos imemoriais e tornam imperativa a presença maciça de soldados bem treinados e capacitados.
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