
No Rio Grande do Sul, afim de desviar de Sâo Paulo a atenção dos órgãos de segurança, a Unidade de Combate /Militar do Rio Grande do Sul - UC/MRS - da VPR iniciava as ações armadas. No dia 2 de março assaltou um Volks do Banco Brasul que transportava dinheiro da Companhia Ultragás, levando 65.000,00 cruzeiros.
A VPR havia iniciado o treinamento de militantes para a guerrilha rural. A área de Registro/SP estava em pleno funcionamento e sua existência e localização eram consideradas do mais alto sigilo.
Prisão de Damaris Lucena
No dia 20 de fevereiro, quatro policiais militares ao investigar o roubo de um carro, chegaram a uma casa na região de Atibaia e, sem saber que era um "aparelho" da VPR, ao
pedirem documentos do morador foram recebidos a bala. Um deles, o segundo sargento PM Antonio Aparecido Posso Nogueró, foi morto e o segundo sargento PM Edgar Correia da Silva foi ferido gravemente. Os outros dois policiais reagiram e, no tiroteio, foi morto Antônio Lucena que militava no PCB desde 1958. Antônio Raimundo Lucena-"Doutor"
No "aparelho" foram encontrados: material cirúrgico, 11 FAL, 24 fuzis, 4 metralhadoras, 2 carabinas, 2 espingardas, 1 Winchester, explosivos e cartuchos diversos.Tanto Lucena , como sua mulher Damaris eram militantes ativas da VPR e ligados a Lamarca.
Damaris Lucena foi presa e seus três filhos menores, depois de várias tentativas de colocá-los em instituições, acabaram abrigados na Febem, porque, segundo depoimento de um dos filhos do casal - Kito -, publicado no livro Mulheres que foram à luta armada de Luiz Maklouf Carvalho, nenhuma instituição os quis abrigar por medo de que Lamarca os tentasse resgatar.
A prisão de Damaris trouxe preocupação para a cúpula da VPR. Ela sabia a localização da área onde Lamarca instalava as bases para a guerrilha rural.
Ao ser socorrido, foram encontrados farta documentação e armamento dentro de seu carro, o que provocou a sua prisão.
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Chizuo Osava - " Mario Japa " |
A forma mais expedita seria o sequestro de uma autoridade ou de um representante diplomático.
O sucesso da ação contra o embaixador norte-americano, em setembro de 1969, no Rio de Janeiro, pesou decisivamente na opção pelo seqüestro do cônsul japonês em São Paulo, Nobuo Okuchi. Mas, a VPR necessitava de auxIlio para executar a ação. Seus quadros mais experientes estavam empenhados no Vale da Ribeira ou fazendo levantamentos nas áreas de Goiás e do Norte do Rio Grande do Sul, visando á implantação das "áreas estratégicas".

O planejamento tinha funcionado a contento. Liszt Benjamin Vieira, parado na Praça Buenos Aires, tinha assinalado para Ladislas Dowbor, na esquina das ruas Bahia e Alagoas, a aproximação do carro do cônsul. Ladislas fez o sinal convencionado para Devanir José de Carvalho que arrancou como Volks azul, cololocando-se no caminho do Oldsmobile. Marco Antonio Lima Dourado era o rapaz alto que apanhara a metralhadora no carro de Devanir e, para surpresa de Okuchi, ameaçava o motorista Hideaki Doi.
Plínio Petersen Pereira, que se encontrava junto a Ladilas, auxiliou Liszt a retirar o cônsul de dentro do carro, sob a ameaça de armas, e a conduzí-lo para um Volkswagen vermelho que estava estacionado na Rua Alagoas, do outro lado da esquina.
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Notícia no Jornal do Brasil - 14/03/1970 |
Okuchi, colocado no banco traseiro, teve os olhos vendados com esparadrapo e foi forçado a colocar a cabeça sobre os joelhos de Liszt, que se postara a seu lado. O motorista do carro era "Bacuri" que partiu em velocidade, após Ladislas ocupar o outro banco da frente. O Volks azul seguiu à retaguarda, na segurança, até a Avenida Dr Arnaldo, com os outros participantes do sequestro.
"Bacuri" conduziu o carro para a Avenida Ceci, nº 1216, em Indianópolis, "aparelho" que ocupava com Denize Peres Crispim, onde Okuchi ficou "guardado" até o dia 15. Os contatos com o cônsul eram feitos por Ladislas e Liszt, que se comunicavam em inglês. Okuchi, que tinha pouco tempo de Brasil, não entendia corretamente português.
No "aparelho", permaneceram vigiando o cônsul, até a sua libertação: "Bacuri", Ladislas e. Liszt. Denize, além de cuidar das compras e da alimentação, foi a única
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Presos partem para o méxico |
Os comunicados, escritos por Ladislas, exigiam a libertacão de cinco presos e a obtenção de asilo político no México ou outro país que a isto se dispusesse. As exigências dos seqüestradores iam da paralisação das atividades de busca e da "suspensão das violências contra os presos políticos.
Os terroristas ameaçavam dinamitar o esconderijo do cônsul, com todos que lá estivessem, caso houvesse alguma tentativa de resgate. Todos os comunicados eram assinados pelo "Comando Lucena" da VPR, em alusão ao terrorista morto em Atibaia.
No comunicado nº 4, os terroristas divulgaram a lista dos cinco presos a serem libertados. Damaris de Oliveira Lucena, esposa do falecido Antonio Raimundo de Lucena, homenageado com a denominação do Comando, e seus três filhos encabeçavam a lista. Chizuo Ozava, o principal objetivo da ação, era referido como "um nissei de nome de guerra " Mário". Completavam a lista : Diógenes José de Carvalho Oliveira; Otávio Ângelo - "Tião" -, armeiro da ALN ; e Madre Maurina , do Lar Santana para menores, que dava guarida a militantes da Força Armada de Libertação Nacional - FALN - de Ribeirão Preto.
Libertados os presos pedidos e os três filhos de Damaris e transportados em segurança para o México, teve inicio a operaçao de libertação de Nobuo Okuchi. No comunicado nº 6, os terroristas exigiam a suspensão do policiamento e advertiam sobre as conseqüências trágicas para o cônsul caso fosse tentado algo contra eles.
No domingo, 15 de março, às 16 horas, "Bacuri" retirou Liszt do "aparelho" , deixando-o na Vila Mariana. Por volta das 18 horas, Nobuo Okuchi foi vendado e levado por Ladislas para o banco traseiro do Volks vermelho. "Bacuri" e Denize, após revistarem a casa e queimarem documentos, trancaram a porta. O "aparelho" estava sendo abandonado por questões de segurança.
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Jornal notícia chegada dos 5 presos e dos 3 filhos de Damaris. |
Para sorte de Nobuo Okuchi, o Volks vermelho retornou e recolheu Ladislas, afastando-se do local. De táxi, o diplomata retornou à sua casa, cansado, mas com sua integridade física preservada.
Respeitando os compromissos assumidos e resgatado o diplomata nipônico, teve prosseguimento a luta diuturna contra o terror.
Mas a VPR também era eficiente. Logo após o banimento de "Mário Japa", Almir Dutton Ferreira enviou um de seus contatos, Maria Adelaide Valadão Vicente, aeromoça da BRANIFF, ao México, a fim de saber o que Chizuo havia falado. Num "ponto", ao qual também compareceu Diógenes José Carvalho de Oliveira, Maria Adelaide entregou 8.000 cruzeiros a Chizuo e ficou sabendo que a "repressão pensava que a área de guerrilha que Lamarca montava em Registro era em Goiás".
Transmitida a noticia, a VPR ficaria tranquila por mais um mês.