
Pelo que se apurou, Dilma Rousseff exasperou-se diante do secretário-executivo do ministério, Luís Antônio Eira. Aos gritos, com grosseria, irritada pelo novo cronograma da ferrovia do Nordeste, que não será mais concluída em 2010, disse que só por cima de seu cadáver haverá desembolso do Fundo de Desenvolvimento gerido no palácio do Planalto.
Dona Dilma pode até estar certa na decisão, mas perdeu a tempera e perdeu-se na reação. Imagine-se como se comportará no exercício da presidência da República diante de mil e um episódios similares ou muito mais graves. A sede do governo seria transformada num convento de freiras da Idade Média, onde a Madre Superiora detinha o poder absoluto sobre o bem e o mal? Num reformatório para jovens transviados? Ou numa penitenciária onde se entra para a submissão completa diante do diretor?
Há muito eram conhecidas as virulências verbais da então ministra das Minas e Energia e, depois, chefe da Casa Civil. Muita gente, na planície aqui em baixo, até aplaude esse tipo de comportamento. O diabo está no risco de a moda ser praticada pela expressão maior da governabilidade nacional. Será no mínimo singular exemplo para a nação que lhe caberá conduzir. Porque o secretário-executivo do ministério da Integração Nacional demitiu-se, agastado e espantado com a agressão. Mas o povo brasileiro não poderá fazer o mesmo.
Ele viaja, a crise fica
O presidente Lula chegou da Líbia na noite de quarta-feira. Hoje, viaja de novo, agora para Paris. Nas duas oportunidades, como nas outras anteriores, nos últimos sete anos e meio, teve motivos para ausentar-se: uma reunião com os governantes dos países da África, o recebimento de um prêmio internacional da Unesco.
No tempo das viagens de José Sarney ao exterior, quando na presidência da República, o então senador Fernando Henrique saiu-se com proverbial diagnóstico, ao ser perguntado sobre a crise daqueles idos: “a crise viajou…”
Agora é o contrário, singularmente também envolvendo José Sarney, porque o presidente da República viaja e deixa a crise para trás. Talvez por isso o Lula se ausente tanto…