
– Atirei a toalha – diz Southall.
Se o símbolo dos agropecuaristas desistiu, seus colegas prometem resistir. Tarso Teixeira, presidente do Sindicato Rural de São Gabriel, pediu que advogados estudem a possibilidade de usar a legislação que protege o ambiente contra os assentamentos. A alegação será de que o ecossistema da região é frágil e não resistirá à exploração agropecuária intensa.
– As leis ambientais são rígidas. Vamos ver se funcionam contra eles – afirma o presidente do sindicato.
Teixeira é uma espécie de general dos fazendeiros. Foi um dos arquitetos da resistência contra a polêmica Marcha ao Coração do Latifúndio, em 2003, quando 800 famílias sem terra se deslocaram de diversos acampamentos com o objetivo de acampar em São Gabriel. A reação dos estanceiros foi forte, e a marcha não conseguiu chegar à cidade.
Um velho adversário do MST, Gedeão Pereira, de Bagé, vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), vai mais longe e chega a projetar um êxodo de fazendeiros. Ele lembra que, no final dos anos 80, quando os sem-terra começaram a se instalar na região de Bagé, onde hoje ocupam 60 mil hectares, aconteceu uma debandada de produtores rurais:
– Vários venderam as terras e compraram no Uruguai. Entre eles, os donos do Consórcio Ana Paula, que hoje produzem carne no Uruguai.
Rossano Gonçalves, deputado estadual pelo PDT e crítico da movimentação do MST em direção a São Gabriel, lamenta a compra das áreas pelo Incra, mas não esmorece.
– Foi perdida uma batalha. Não a guerra. Vamos ver se sobrevivem como agricultores.
CARLOS WAGNER | São gabriel
Por que as terras estão sendo vendidas
Não foi o fim de uma guerra. Apenas uma trégua que servirá para reagrupar as forças. Assim está sendo entendida pelos fazendeiros a derrubada da última trincheira erguida por eles nos campos da fronteira contra o avanço dos assentamentos do MST. A queda aconteceu com a compra, pelo Incra, de cinco fazendas na região, incluindo parte da Estância do Céu, o símbolo da resistência dos estancieiros.
O empurrão final para a queda da trincheira foi dado em outubro, quando os fazendeiros perderam um aliado de peso: a Aracruz. Alegando prejuízos com a crise financeira mundial, a empresa suspendeu o investimento de R$ 4,9 bilhões no Estado. Parte desse dinheiro seria para compra e arrendamento de terras para o plantio de eucaliptos em 36 municípios, entre eles São Gabriel.
– Para aqueles que precisavam vender restou apenas um comprador, o Incra – observa Dilmar da Silva, 56 anos, corretor de terras na região.
Nina Tonin, líder do MST, diz que os assentamentos vão levar para a região agricultura familiar, que gera mais empregos do que as médias e grandes propriedades, responsáveis por fazer de São Gabriel o sexto município na produção de arroz irrigado do Estado e o quinto na produção de gado de corte.
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