Por Nivaldo Cordeiro, economista
Só quem, como eu, um dia foi militante do PT pode ter a noção exata do abismo que separa os dias de hoje, das glórias cessantes do poder petista, daqueles tempos épicos do final dos anos setenta e começo do anos oitenta. Todo mundo então dava o sangue para viabilizar o partido. Fiz da minha casa núcleo do PT, saindo de porta em porta dos vizinhos a cadastrar títulos de eleitor para viabilizar o partido. Dei muitas festas em casa para arrecadar fundos para o partido. Era puro entusiasmo de uma idéia que parecia a salvação nacional.

Quando chegava os tempos de eleições estávamos lá, panfletando cedo nas filas de ônibus e portas de fábrica. Fazíamos corpo-a-corpo. No dia do pleito fazíamos boca-de-urna. E, encerradas as eleições, revezávamos como fiscais de apuração, noite a dentro, que não havia essa de urna eletrônica e sempre suspeitávamos que poderiam roubar os nossos preciosos votos. Bons tempos, românticos. Era um auto-engano delicioso. Mal sabíamos que estávamos a construir esse governo safado, ladrão e descarado que tem sido Lula Lá.
Enquanto professor universitário induzi muitos jovens alunos a votar no PT. Terá sido esse o meu maior pecado, desencaminhar a juventude que a mim estava confiada enquanto professor. Fui desonesto e malicioso, mas o fazia em absoluta inocência, aquela dos desinformados cheios de boas intenções. Minha geração pagou o preço de ser vítima da revolução gramsciana posta em marcha nos anos sessenta e acabei por desempenhar um papel nessa farsa grotesca. Faço minha penitência por isso, embora tenha consciência de que fui usado, jovem e desinformado que era.
Lembrei de tudo isso ontem na Avenida Paulista. Por ela caminhei algumas quadras, da Rua Augusta até a Joaquim Eugênio de Lima. Vi alguns “militantes” do PT. Pareciam em luto, com o mastro das bandeiras a meio pau. Todos militantes de aluguel. Ninguém ali como nos velhos tempos, trabalhando gratuita e voluntariamente em favor da causa socialista, tão cara a todos nós outrora. Ficou provado que não se pode enganar a todos por todo o tempo.
Lembrei de tudo isso ontem na Avenida Paulista. Por ela caminhei algumas quadras, da Rua Augusta até a Joaquim Eugênio de Lima. Vi alguns “militantes” do PT. Pareciam em luto, com o mastro das bandeiras a meio pau. Todos militantes de aluguel. Ninguém ali como nos velhos tempos, trabalhando gratuita e voluntariamente em favor da causa socialista, tão cara a todos nós outrora. Ficou provado que não se pode enganar a todos por todo o tempo.

Em penitência pelos meus erros do passado faço do meu palanque eletrônico uma tribuna para gritar em alto e bom som: Fora, Lula! E leve junto seus sicários, isto é, se a polícia não os pegar antes. Acabou a farsa, acabou a festa. Alckmin vem aí.
Amanhã será um novo dia. Podemos repetir aqui, com sinal invertido, a canção de Chico Buarque:
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
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